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17-Nov-2009 |
Opinião
Texto de Mário Crespo
O processo Face Oculta deu-me, finalmente, resposta à pergunta que fiz ao ministro da Presidência Pedro Silva Pereira - se no sector do Estado que lhe estava confiado havia ambiente para trocas de favores por dinheiro. Pedro Silva Pereira respondeu-me na altura que a minha pergunta era insultuosa.
Agora, o despacho judicial que descreve a rede de corrupção que abrange o mundo da sucata, executivos da alta finança e agentes do Estado, responde-me ao que Silva Pereira fugiu: Que sim. Havia esse ambiente. E diz mais. Diz que continua a haver. A brilhante investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro revela um universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça.
O país tem de saber de tudo porque por cada sucateiro que dá um
Mercedes topo de gama a um agente do Estado há 50 famílias
desempregadas. É dinheiro público que paga concursos viciados, subornos
e sinecuras. Com a lentidão da Justiça e a panóplia de artifícios
dilatórios à disposição dos advogados, os silêncios dão aos criminosos
tempo. Tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de
crimes na habituação. Foi para isso que o primeiro-ministro contribuiu
quando, questionado sobre a Face Oculta, respondeu: "O Senhor
jornalista devia saber que eu não comento processos judiciais em curso
(...)". O "Senhor jornalista" provavelmente já sabia, mas se calhar
julgava que Sócrates tinha mudado neste mandato. Armando Vara é seu
camarada de partido, seu amigo, foi seu colega de governo e seu
companheiro de carteira nessa escola de saber que era a Universidade
Independente. Licenciaram-se os dois nas ciências lá disponíveis quase
na mesma altura. Mas sobretudo, Vara geria (de facto ainda gere)
milhões em dinheiros públicos. Por esses, Sócrates tem de responder.
Tal como tem de responder pelos valores do património nacional que lhe
foram e ainda estão confiados e que à força de milhões de libras
esterlinas podem ter sido lesados no Freeport.
Face ao que (felizmente) já se sabe sobre as redes de corrupção em
Portugal, um chefe de Governo não se pode refugiar no "no comment" a
que a Justiça supostamente o obriga, porque a Justiça não o obriga a
nada disso. Pelo contrário. Exige-lhe que fale. Que diga que estas
práticas não podem ser toleradas e que dê conta do que está a fazer
para lhes pôr um fim. Declarações idênticas de não-comentário têm sido
produzidas pelo presidente Cavaco Silva sobre o Freeport, sobre Lopes
da Mota, sobre o BPN, sobre a SLN, sobre Dias Loureiro, sobre Oliveira
Costa e tudo o mais que tem lançado dúvidas sobre a lisura da nossa
vida pública. Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e
o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: os agentes do Estado
protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles
é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa
Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros
comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para
preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou
aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial
que rendem 147,5% ao ano. Lida cá fora a mensagem traduz-se na
simplicidade brutal do mais interiorizado conceito em Portugal: nos
grandes ninguém toca.
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