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Documentários: Regresso ao Campo |
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13-Set-2010 |
Como é a vida dos neo-rurais portugueses? Porque se decide ir viver para
o campo?... Um documentário de Paulo Silva Costa, na RTP1
João
Carvalho viveu onze anos em Londres. Teve êxito, mas fartou-se do
frenesim citadino e dos horários das 9 às 5.
Optou por uma
existência mais simples. Veio viver com a mulher e o filho recém-nascido
para uma casa abandonada que descobriu através da internet e que
comprou na Benfeita, | em Arganil
Está a reconstruir a casa pelas suas
próprias mãos. Só usa ferramentas manuais, e o mínimo de cimento ou de
combustíveis fósseis.
O casal é vegetariano. Por isso, quando chega a
hora de almoço, a mulher, Claire, tem apenas de descer às hortas
abandonadas mais próximas para colher a próxima refeição. Também já
fizeram vinho e cinquenta litros de azeite.
João desistiu
propositadamente de uma vida com torradeiras e aquecimento eléctrico.
Podia tê-la sem dificuldade, mas quer "viver com menos", como diz.
Claire
e João são um exemplo de um grupo de novos rurais com crescente
implantação nalguns partes esquecidas de Portugal, como é o caso da
serra da Lousã ou do barrocal algarvio.
Os primeiros destes
neo-rurais eram estrangeiros. Vinham de uma Europa Central então
ameaçada por Chernobyl, à procura do últimos redutos naturais do
Continente. Este movimento da populacão iniciou-se de resto já há
décadas na Europa, mas só há pouco tempo ganhou alguma relevância social
em Portugal.
Por cá, desde os anos quarenta do século passado que as
migrações eram em direcção às cidades. Foi este êxodo rural que
transformou Portugal num pais macrocéfalo, com um interior cada vez mais
desertificado e a população concentrada no Litoral e sobretudo na área
da Grande Lisboa.
"As pessoas abandonaram as áreas rurais e foram
para as cidades à procura de trabalhos menos duros fisicamente, com
remunerações mais elevadas ou pelo menos mais regulares, e à procura de
melhores oportunidades para os filhos" - explica a geógrafa Teresa
Alves, professora do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território
da Universidade de Lisboa.
Ir para a cidade era então visto como uma
ascensão social, qualquer que fôsse a vida das pessoas lá.
Mas o
mundo rural mudou muito nos últimos trinta anos. Os tractores
substituiram o trabalho braçal, e os subsídios comunitários tornaram
mais fácil viver no campo. Hoje em todo o lado há supermercados, a toda a
parte se chega num instante graças às auto-estradas, e a internet
tornou possível viver no campo mas trabalhar em funções que outrora só
na cidade se podiam exercer.
Valorizaram-se também socialmente modos
de vida desprezados num passado recente. E iniciou-se outra migração
interna, a mudança para o campo dos ex-citadinos...
Agora, os
geógrafos até já distinguem diferentes grupos destes "neo- rurais": há
os que partem por motivação ecológica, os que na reforma regressam à
terra natal, aqueles que se dedicam ao teletrabalho, e até os
desempregados por causa da crise...
São algumas dessas pessoas que
fizeram a opção de ir viver para o campo que o documentário vai
encontrar.
Contata-se que os novos rurais portugueses são muitas
vezes os netos ou os filhos dos que partiram para as cidades no século
passado. Querem mudar de vida, tal como os seus pais e avós, mas têm
outros valores.
"Valorizam o seu próprio tempo e modos de vida mais
solidários" - conclui Teresa Alves - "e vão á procura de actividades em
equilíbrio com a natureza. Também são pessoas que têm uma cultura de
território, e que buscam um lugar específico onde possam ser felizes".
Um
documentário de Paulo Silva Costa, com imagem de Rui Lima Matos,
genérico de Pedro Cerqueira, edição de João Gama, sonorização de Luís
Mateus e produção de João Barrigana.
52 min, © RTP 2010 - http://www.docspt.com/index.php/topic,12087.0.html
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