A “CORAGEM” DOS BISPOS |
13-Abr-2009 | |
Henrique
de Barros, coordenador nacional para a infecção VIH/ SIDA, criticou o Papa por
desprezar a “evidência científica de o preservativo ser a única solução eficaz
para a prevenção da SIDA”, uma vez que “a abstinência sexual não é humanamente
aceitável”, dando Portugal como exemplo, com menos um milhar de novos casos de
SIDA, em 2008, graças à distribuição gratuita de um milhão de preservativos
pelo Ministério da Saúde.
Também
Jorge Torgal, médico e professor catedrático, director do Instituto de Higiene
e Medicina Tropical, acusa Bento XVI de estar ao lado dos que “não defendem a
vida” e de contrariar as posições
oficiais da Organização Mundial de Saúde (OMS) e das agências das Nações Unidas
que num documento divulgado a 19 de
Março, afirmam que “o preservativo é um elemento crucial numa estratégia
integrada, efectiva e sustentável na prevenção e tratamento do VIH”.
No
entanto, basta sintonizar a Rádio Renascença para se ouvir padres, bispos e
leigos a defender as posições do Papa e as virtudes da abstinência e da
fidelidade como alternativas ao preservativo. No Uganda, onde fundamentalistas
católicos e evangélicos mais têm pregado esta teoria, o combate à SIDA está
desde há dois anos a sofrer um retrocesso.
Já
em 2003 a OMS condenou o Vaticano por haver cardeais, bispos e padres a dar
informações falsas sobre a “ineficácia” do preservativo, pondo vidas em perigo.
Lamentavelmente,
houve jornais locais e nacionais que ao citarem a minha interpelação ao bispo
Ilídio Leandro, durante o debate sobre Violência Doméstica, truncaram o cerne
da questão que ali coloquei e que tinha a ver mais directamente com o tema. É
que o preservativo não é só um método de prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis, mas também um método contraceptivo e de planeamento familiar. E
o bispo de Viseu ao defender o seu uso apenas quando um dos parceiros está
infectado, (ainda por cima, no país europeu, a seguir ao Reino Unido,
com maior taxa de gravidez na adolescência), está a incorrer no mesmo
ataque do Vaticano a um dos direitos consagrados na Conferência Mundial das
Nações Unidas sobre Direitos das Mulheres, em 1995: “Os direitos humanos das
mulheres incluem o direito de controlar os aspectos relacionados com a sua
sexualidade, incluindo a saúde sexual e reprodutiva”.
Em
1999, a Comissão para a Igualdade e Direitos das Mulheres (nome primitivo da
comissão agora presidida por Elza Pais, oradora no debate, juntamente com o
bispo de Viseu), publicou a versão portuguesa da Carta dos Direitos Sexuais e
Reprodutivos que no seu ponto 6 diz: “Todas as pessoas têm o direito de estar
livres de interpretações restritas de textos religiosos, crenças, filosofias ou
costumes, como forma de limitar a liberdade de pensamento em matérias de
cuidados de saúde sexual e reprodutiva e outros”.
Razão
tem o padre Feytor Pinto, responsável da Pastoral da Saúde, quando disse, há
cerca de um mês, que “há vozes
retrógradas na igreja sobre sexualidade” e defendeu a educação sexual dos
pais para poderem ser educadores e confiarem no papel da escola neste campo,
lamentando que ainda haja padres e bispos que têm medo de encarar este
problema. Note-se que há 40 anos Paulo VI criou uma comissão para estudar a
contracepção, tendo a maioria sido favorável aos métodos artificiais, mas a
cúria romana acabaria por só autorizar os métodos naturais, mais falíveis do
que o Papa. Depois queixam-se de apenas terem metade das paróquias da Região Centro com padre residente... |