O interioricídio soma e segue!
07-Jun-2010

Opinião
Texto de Maria da Graça M. Pinto

O anúncio do encerramento de 500 escolas do primeiro ciclo até ao final do ano lectivo e a perspectiva de a estas se juntarem, a curto prazo, mais 400 , apanhou o país desprevenido, com  particular destaque para as  crianças e famílias do interior  as mais afectadas por esta medida. O interioricídio soma e segue, e as crianças são as principais vítimas.
Argumentam os responsáveis do Ministério da Educação que a qualidade da oferta educativa  é a razão de ser desta decisão e que o processo será concertado com as autarquias e as comunidades locais. Temos todas as razões para desconfiar desta declaração de intenções. Toma-se uma decisão no aconchego dos gabinetes, à revelia das autarquias , das populações e dos   actores educativos e, simultaneamente, declara-se a intenção de  implementar o processo de forma participada. Como diz o povo, a bota não bate com a perdigota!

 A estratégia não é nova. Foi assim, quando há anos se anunciou o encerramento de escolas com menos de dez alunos. Entretanto, a sanha da poupança aumentou e o resultado está à vista. Desta vez  passaram a estar na mira de fogo as escolas com menos de vinte alunos. E quem sabe, se num futuro próximo, a obsessão do défice, não irá ditar outros números! A fazer fé na  duplicação dos números agora verificada, iríamos, então,  para a fasquia mínima  das quarenta crianças por escola!
Se juntarmos a esta medida, a decisão de criar mega-agrupamentos, o quadro fica, ainda, mais claro. Afastam-se crianças do meio em que cresceram e consagram-se direcções de agrupamentos distantes das realidades locais e da comunidade educativa. Trata-se de implementar medidas economicistas, com base na régua e no esquadro, fazendo tábua rasa dos interesses das populações e da melhoria da oferta educativa.
O impacto desta política far-se-á sentir, sobretudo, nos concelhos do interior. Casos como o do concelho de Vouzela, onde, de acordo com notícias vindas a público, se prevê o encerramento de 12 escolas,  de Aguiar da Beira, onde das cinco escolas existentes, apenas sobrará uma, ou de Gouveia que  perderá 10 escolas, irão repetir-se-ão  por todo o interior.
Entretanto o Bloco de Esquerda chamou a ministra da educação ao parlamento para explicar esta medida. O país tem direito a um cabal esclarecimento sobre as verdadeiras razões que determinaram esta decisões,  tomada nas costas dos cidadãos e  que, a nosso ver nada têm a ver com a qualidade da educação ou os interesses das crianças.