NA GUERRA DO FOGO, FALTA PREVENÇÃO E MEIOS DE COMBATE, SOBRAM SUBMARINOS
13-Ago-2010
   Opinião
Texto de Carlos Vieira e Castro
fogo.jpgDante, o maior poeta da literatura italiana, na sua obra prima  “A Divina Comédia”, descreve-se perdido numa floresta, acossado por três feras, uma pantera, um leão e uma loba, símbolos, respectivamente, da luxúria, do orgulho e da avareza, e para lhes escapar atravessou o Inferno, conduzido por Virgílio, o poeta latino autor da Eneida, obra que inspirou o genial florentino. Volvidos oito séculos, na terra lusitana cantada por Camões, para atravessar o Inferno basta deixarmo-nos conduzir por um bombeiro no combate a um incêndio numa qualquer floresta habitada por três feras: a incúria dos sucessivos governos (no reordenamento florestal e na prevenção) e das pessoas que não respeitam o património colectivo; o abandono da agricultura e o aquecimento global. 

O distrito de Viseu tem sido, de novo, um dos mais fustigados pelos fogos florestais e, em particular a zona de Lafões, onde, em S. Pedro do Sul, o fogo, sabe-se lá se ateado por mão criminosa, matou um bombeiro. Mais uma vez, se ouvem vozes de protesto pela falta de meios de combate e de medidas de prevenção. Os bombeiros voluntários de Vouzela  queixam-se de falta de meios e o mesmo diz o comandante dos voluntários de Oliveira de Frades que se mostra ainda persuadido de que mais de seis incêndios na mesma zona só podem ter causas criminosas.
Os presidentes das juntas de Vila Chã de Sá e de Silgueiros, no concelho de Viseu, queixam-se do atraso na aprovação das candidaturas aos fundos comunitários para a limpeza de matas e a abertura de caminhos. A falta de acessos tem sido uma das principais dificuldades apontadas pelos bombeiros no ataque aos fogos florestais.
Os bombeiros também se queixam da falta de equipamento adequado (óculos de protecção, capacete, luvas, fatos e botas à prova de fogo). O presidente da Liga dos Bombeiros diz que só cinco mil bombeiros (metade dos bombeiros da primeira linha de intervenção)  é que têm aquele equipamento. Duarte Caldeira denunciou também as falhas de logística, no que concerne ao abastecimento de água e comida para os bombeiros, por parte dos serviços municipais, para além de 2000 viaturas a precisar de substituição urgente. Foram prometidas 95 viaturas, há dois anos, mas tudo indica que só serão entregues “depois de Setembro”, quando a “época dos fogos” estiver a acabar.  
Os pequenos proprietários nem sempre têm dinheiro e vontade para limpar as matas, mas caberá aqui um papel fundamental às associações de desenvolvimento rural e associações ou cooperativas de produtores para intermediar com o Estado na formação e apoio dos pequenos proprietários florestais, de forma a tirar partido económico da floresta enquanto riqueza natural e fonte de energia (biomassa), reflorestando com espécies autóctones, não resinosas, que preservem a biodiversidade e o equilíbrio ecológico.
 Apesar de alguns progressos (em 2003 só 5% dos bombeiros tinha formação específica para lutar em campo aberto) há ainda muito a fazer no campo da formação de bombeiros e no alargamento dos corpos de vigilantes, bombeiros e sapadores florestais.
A nossa guerra não é no Afeganistão, como cúmplices dos crimes de guerra contra populações civis, mulheres e crianças incluídas, relatados nos documentos secretos militares norte-americanos recentemente divulgados; a nossa guerra é aqui na nossa terra, na defesa do nosso património mais valioso, a Natureza. E nessa guerra, declarada todos os anos na mesma época, precisamos de mais investimento na prevenção e no ordenamento da floresta, de mais meios de combate, incluindo aviões e helicópteros,  mas não creio que os submarinos dêem muito jeito para apagar fogos florestais.
Carlos Vieira e Castro