OS PORTUGUESES SE APERTAREM MAIS O CINTO FICAM COM AS COSTELAS EXPOSTAS
22-Jan-2008
desigualdade.jpgO terramoto, com epicentro nos EUA, que está a abalar as bolsas mundiais é um sintoma de que o mundo está à beira da recessão. Tal crise económica global, porém, preocupa tanto o comum dos portugueses como a notícia de que a nuvem Smith, carregada com hidrogénio capaz de produzir um milhão de sóis, deverá colidir com a nossa galáxia dentro de vinte a quarenta milhões de anos. O que é isso comparado com o aumento dos preços dos bens essenciais, bem acima da inflação prevista pelo Governo?  E, no entanto, ao contrário dos acidentes cósmicos, que não descriminam classes sociais,  as crises económicas sobram sempre para os mais pobres. Enquanto os dois milhões de portugueses na mais pura pobreza se apertarem mais o cinto de segurança ficam com as costelas expostas, os ricos têm um air-bag económico cada vez mais seguro.
Um funcionário da Sonae, da Jerónimo Martins, do BCP, da Brisa e da PT precisa de trabalhar mais de quatro anos para ganhar tanto como um administrador de cada uma destas empresas ganha num mês. Ou seja, os gestores das grandes empresas portuguesas ganham 32 vezes mais do que os seus funcionários. Em Espanha a diferença reduz-se  para metade (15 vezes mais), e na Alemanha (o país mais rico da União!) só ganham dez vezes mais.
O Presidente da República alertou para o escândalo destas disparidades, mas a verdade é que o PSD sempre se opôs à divulgação pública dos altos vencimentos da administração pública e privada (proposta pelo BE). Porém, tal foi suficiente para que Cavaco fosse acusado de populismo e demagogia por gente do seu próprio partido. E, quando a revista Visão questionou se o PR não estaria a sugerir o aumento da carga fiscal para as grandes fortunas (outra proposta do Bloco), o democrata-cristão Bagão Félix e o social-democrata Ângelo Correia responderam: jamais! porque isso provocaria uma fuga de cérebros para o estrangeiro. Para onde, se em todo o lado ganhariam menos e pagariam mais impostos? E para que é que Portugal precisa dos cérebros que o transformaram no país com maiores desigualdades sociais da Europa?   O vice-presidente do PSD dá a estocada final: Além disso, alguém tem de poupar, em Portugal. O País precisa de poupança. Pois claro: já que os pobres não sabem
poupar, poupemos os ricos de impostos para pouparem, sacrificadamente, por todos. Por isso é que o secretário de Estado da Segurança Social queria pagar a actualização das pensões de Dezembro em 14 prestações mensais de 68 cêntimos, porque se os pensionistas recebessem tudo junto (uma média de 9,6 euros de retroactivos) poderiam gastá-lo mal.
PS e  PSD, o bloco central de interesses, irmanam-se para correr com os pequenos partidos das autarquias e do parlamento. Descaradamente, partilham lugares nos bancos públicos e privados. Fazem vista grossa às falcatruas dos gestores da banca. Filipe Menezes leva a sem vergonha ao ponto de propor uma redistribuição dos comentadores dos dois partidos na comunicação social. Então isto não está a ficar cada vez mais parecido com um partido único com duas cabeças?
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 Carlos Vieira