E QUE TAL UMA INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA IGNOMÍNIA? |
24-Fev-2008 | |
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Foi precisamente com dez comprimidos de citotec (fármaco receitado para úlceras gástricas e duodenais, que pode ter efeitos abortivos e que, em sobre dosagem, já levou à morte) que uma jovem que se encontra a estudar em Viseu provocou um aborto. Mas mais do que a descrição pormenorizada dos acontecimentos feita pelas colegas chocou-me que o director da escola tenha convocado uma conferência de imprensa onde lhes deu a palavra, para que todos ficassem a saber que a jovem era a única "criminosa". Talvez não a única culpada (à face da lei) já que os depoimentos denunciaram a cumplicidade da colega que lhe cedeu os comprimidos. "O que é que eu havia de fazer? Estamos numa escola de formação...", justificou-se o director quando, um dia depois, o jornalista da Rádio Noar o confrontou com a ignóbil exposição das alunas. Formação? É bem precisa para se dirigir uma escola. Formação, sim, para criar laços de amizade e solidariedade entre os alunos. Telefonar à GNR, como fez,
anonimamente, uma das alunas, em vez de procurar apoio médico, não me parece que revele um boa formação do carácter. Mas, o que mais me chocou foi ter visto a notícia do DN, na passada terça-feira, com o nome completo da jovem estudante. Em nenhum outro jornal encontrei esta falta de ética, tamanha falta de sensibilidade e bom senso (repetida na edição do dia seguinte). Como é possível violar, de forma tão sórdida, o direito à reserva da intimidade da vida privada, consagrado constitucionalmente? E se interrompessem voluntariamente a ignomínia?... A jovem que, à data em que escrevo, ainda se encontra internada no serviço de Obstetrícia do Hospital de Viseu, onde foi interrogada pela Polícia Judiciária, terá dito a alguém que não tencionava regressar às aulas. Esperemos que a visita do embaixador de Cabo Verde, que o director da Escola disse que se efectuaria dentro de um ou dois dias, a demova de abandonar os estudos. Este caso só vem dar mais razão a todos quantos insistem na necessidade urgente de efectivar a Educação Sexual nas escolas, por forma a reduzir drasticamente a gravidez não desejada, nomeadamente na adolescência (com Portugal a apresentar os piores indicadores da Europa) e de acabar rapidamente com as resistências e obstáculos ao cumprimento da lei no Serviço Nacional de Saúde, dando todas as condições de segurança e privacidade às mulheres que recorrem à IVG. ![]()
Carlos Vieira
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