GERAÇÕES À RASCA EM LUTA COM ALEGRIA
11-Mar-2011
Opinião
Texto de Carlos Vieira e Castro

Marcelo Rebelo de Sousa tem razão: anda para aí um cheiro a PREC no ar… Um cheiro quente que parece trazido pelo vento Suão que vem do Norte de África. Lá, tudo parecia imutável e os ditadores sentiam-se seguros com o apoio das “democracias” ocidentais, em troca do petróleo e do policiamento do Mediterrâneo contra os migrantes africanos. Aqui, pelo nosso rectângulo, também tudo parecia controlado pelas elites corruptas repartidas pelos partidos do “arco do poder”. O “rotativismo” simulava “o fim da História”. Até que alguém gritou “O Rei vai nu!” e toda a gente viu que a nossa democracia pouco mais é do que um regime de partido único com duas cabeças. O grito que tanto incomodou os ouvidos sensíveis dos serventuários do regime foi a moção de censura do Bloco de Esquerda. O PSD apressou-se a garantir que estaria do lado do governo do PS. Um dos seus militantes mais destacados, Pacheco Pereira, defendeu que Passos Coelho nunca poderá votar uma moção contra Sócrates, dado que está a governar juntamente com ele.

Surgiu então, um grito ainda mais amplificado: o do movimento da Geração à Rasca que agendou manifestações no próximo Sábado, dia 12 de Março, em Lisboa, Porto e Viseu. A onda tem vindo a crescer de tal maneira nas redes sociais, que a extrema-direita tentou surfá-la, procurando lançar a confusão e direccionando o protesto contra toda a classe política e todos os partidos, o que obrigou os signatários do Manifesto da Geração à Rasca a fazer o seguinte esclarecimento:

“Reafirmamos a total independência do protesto face a qualquer estrutura ou movimento de cariz partidário, político ou ideológico. Este é um protesto: Apartidário, aberto a todos os partidos e a quem não tem preferência partidária; Laico, aberto a todas as religiões e a quem não tem religião; e Pacífico! Nunca foi enviada qualquer lista de reivindicações. O manifesto é o único documento associado ao protesto”. E é o Manifesto da Geração à Rasca que nos diz quem é que se sente identificado com este protesto: “Nós, desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.
Nós, que até agora compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no sentido de desencadear uma mudança qualitativa do país”.

Se a canção dos Deolinda, “Parva que sou”, incomodou muita gente (até Mariano Gago a acusou de fazer a apologia do abandono escolar), a vitória da canção “A luta é alegria” de Gel e Falâncio, incomodou muito mais. Mas o povo que votou neste hino do descontentamento nacional não foi só a geração desemprecariada, foram os pais que viram cortados os salários, os abonos de família, as reformas sociais, o poder de compra e a qualidade de vida. Todos os que preferem a alegria e o inconformismo à contrafacção ignorante e descaracterizadora de uma Europa triste de canções sem alma, (des)afinadas pelos mercados.

Na passada segunda-feira, José Sócrates veio a Viseu apresentar a sua moção aos militantes do PS, quando um grupo de jovens da “Geração à Rasca” entrou na sala e pediu para falar. Foram expulsos e agredidos, enquanto Sócrates dizia para as câmaras de TV que estavam convidados para jantar e “é Carnaval ninguém leva a mal”. Nós, todas as gerações à rasca, levamos a mal este “baile de Carnaval” em que PS e PSD, mascarados de “governo” e “oposição”, dançam agarradinhos, calcando toda a gente, e não nos deixaremos iludir com a tradicional troca de máscaras, com que costumam fugir às suas responsabilidades. Não adianta gritar, como Cavaco, “agarra que é ladrão!”, porque “tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta”.