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FUNICULÌ, FUNICULÀ...
29-Ago-2009
Todos conhecem a canção “Funiculì, Funiculà” que Mário Lanza imortalizou nos anos 50, composta em 1880 por Luigi Denza, com lírica de Peppino Turco, para comemorar a abertura do primeiro funicular no Monte Vesúvio, destruído pela erupção de 1944.
Imaginem agora Fernando Ruas a cantar, no banho, “funiculì, funiculà, funiculì, funiculà”... mais inchado que Pavarotti (sem ofensa ao defunto tenor, mas Plácido Domingo também não liga com a imagem pouco plácida do nosso edil), “funiculì, funiculá, funiculì, funiculà”, durante semanas ou meses, a sonhar com a viagem inaugural do funicular pelo presidente da República Cavaco Silva, aproveitando a sua vinda a Viseu para a inauguração da Feira de São Mateus, no passado dia 14. Que essa impossibilidade foi um balde de água fria para o presidente da Câmara Municipal de Viseu não restam dúvidas a quem ler a mensagem que ele assina no catálogo desta edição da Feira de S. Mateus:
“(...) O próprio espaço público da Feira foi dotado de novas e modernas
infra-estruturas e, tem como grande novidade, este ano, um meio
mecânico, não poluente, a abraçar a zona ribeirinha e o portentoso
complexo arquitectónico da Sé. O funicular que, atempadamente, foi alvo
de apoio financeiro da União Europeia, do Governo Português e da
comparticipação do Município de Viseu, é um equipamento que qualquer
cidade portuguesa, com geomorfologia idêntica, gostaria de ter. Mais um
ex-libris que perdurará na “imagem” e no “marketing” de Viseu”.
Como se vê há aqui uma certa megalomania (temos o que mais ninguém tem)
que talvez esteja na origem de uma série de opções erradas.
A primeira questão é saber se a utilidade do funicular justifica um
investimento de 5,2 milhões de euros. Dizer que se trata de “capturar
fundos europeus” é iludir que esse dinheiro, bem como a comparticipação
do Estado e da autarquia (em ambos os casos trata-se do dinheiro de nós
todos), podia ter sido “capturado” para outras obras do projecto Viseu
Polis que ficaram incompletas ou por fazer, como o parque urbano da
Aguieira ou o Centro de Interpretação da Cava de Viriato (monumento
único na Europa).
Subo frequentemente a Calçada de Viriato para chegar mais depressa ao
centro histórico, usando o “pernicular”. É um bom exercício. Melhor do
que fazer marcha pelas radiais, enquanto se engole o C02 dos
automóveis. Mas admito que algumas pessoas, devido à idade ou a outras
limitações motoras, possam ter necessidade de usar um meio mecânico
para vencer um desnível de 16%. É certo que o funicular aproximará a
Cava de Viriato do centro histórico. Mas, para rentabilizar duas
carruagens com capacidade para 50 pessoas cada, só alargando o parque
de estacionamento na nova praça da feira (onde se encontra o palco)
para automóveis e autocarros. E aqui surge o primeiro problema uma vez
que durante a época alta do turismo, a Feira de S. Mateus impede o
aparcamento na maior parte do tempo, já que ou está a decorrer, ou a
montar ou a desmontar.
Por outro lado, o ideal seria um meio mecânico que incentivando o
parqueamento periférico, apenas facilitasse a subida para o morro da
Sé, integrado num roteiro pedonal que sugerisse o regresso pela Rua
Direita, passando pela Porta dos Cavaleiros e acabando na Cava de
Viriato. De contrário, se se sugerir a subida e a descida pelo
funicular, dificilmente os turistas descerão pela Rua Direita, não
beneficiando o comércio dessa artéria histórica e ficando com uma visão
reduzida da cidade.
A segunda questão é saber se o meio mecânico escolhido foi o mais
adequado. Lembro que no Plano de Pormenor “Envolvente Urbana do Rio
Pavia”, que foi submetido a discussão pública, sugere-se “a instalação
de um sistema de transporte mecânico – passadeira/escada rolante – na
Calçada de Viriato” (ver desenho). Esta solução seria certamente mais
económica, daria menos problemas de segurança e teria a vantagem de
também servir os ciclistas.
A terceira questão é saber por que motivo se optou por um funicular
composto por duas carruagens, quando a descontinuidade da inclinação
acaba por tirar pouco proveito do sistema de contrapesos e só com uma
carruagem o tipo de carril seria mais seguro para os peões (a exemplo
dos funiculares de Lisboa: da Bica, da Glória e da Lavra, todos com
cabos aéreos). Por que é que não se optou por rodas de borracha,
conforme é habitual sempre que o funicular não circula em via dedicada?
Os cabos aéreos evitariam os intervalos no piso entre os carris,
armadilhas para os peões.
Américo Nunes, vice de Ruas e membro da Comissão Liquidatária da
ViseuPolis, disse ao Diário de Viseu que “trata-se do primeiro
funicular do país que funciona em via aberta”. Claro que é; porque mais
ninguém teve a peregrina ideia de enfiar um funicular numa via com
intenso trânsito automóvel e pedonal, ainda por cima com um cruzamento.
Há até técnicos que asseguram ser único no Mundo!
Com a pressa de inaugurar o funicular durante a Feira de S. Mateus,
improvisaram-se atabalhoadas medidas de segurança que criaram problemas
aos moradores. Vão acabar por isolar com protecções todo o percurso da
linha (excepto no cruzamento e nas passadeiras), mas duvido que se
irradiquem todos os problemas de segurança. “Funiculì, Funiculà”...
Texto de Carlos Vieira , Candidato à Assembleia Municipal de Viseu