As
queixas dos comerciantes instalados no centro histórico de Viseu, em
especial na Rua Direita, avolumam-se num findar de dia em que a noite
desceu com uma maior rapidez na rua Direita, motivado pela mudança do
horário para a hora de Inverno.
"O comércio aqui na rua só funciona até às 15h00, o
mais tardar 16h00", refere uma das comerciantes da Rua Direita,
evidenciando a falta de clientes, que "há trinta anos", depois do
horário do expediente, aproveitavam para visitar o comércio
tradicional. Mas, "esses tempos eram outros".
Os ponteiros do relógio apontam para as 18h30. A Rua
Direita encontra-se, praticamente, deserta. Apenas alguns grupos de
estudantes do ensino superior que sobem e descem, na galhofa. Clientes
nem vê-los.
"Às vezes chegamos à caixa registadora e temos 20 ou
30 euros, que nem dá para pagar a luz", afirma Manuel Colaço,
proprietário de uma sapataria, que tenta fazer um esforço para
"modernizar" algumas das colecções na tentativa de "atrair mais
clientes".
As "pensões, tascas, restaurantes, pentes, detritos
cascas", os "muitos peões - sem baraça, engraxadores, mantas e
cobertores", ou até "loiças, vidros, jarrões, muitas coisinhas
estranhas e fumo d’ assar castanhas", retratadas em quadras populares
do século XX, dão, hoje, lugar a um "fim anunciado" pela crise, pela
descaracterização das lojas tradicionais e pelo facto de muitos
comerciantes não terem poder de investimento para acompanhar as
tendências de mercado.
Ao longo dos séculos, a Rua Direita esteve sempre
ligada ao sector mercantil, tornando-se assim, um ex-líbris da cidade.
Dos diversos materiais, que outrora os comerciantes colocavam
pendurados à entrada dos seus estabelecimentos, restam portas fechadas
e letreiros a indicar a venda dos imóveis.
De acordo com o presidente da Associação de
Comerciantes do Distrito de Viseu, Gualter Mirandez, entre 2007 e 2008
terão encerrado cerca de duas dezenas de lojas no centro histórico. "Há
um ano atrás haviam 123 lojas. Actualmente, estão abertos entre 70 e 80
estabelecimentos", refere.
Os comerciantes acreditam que, para além da crise
económica e da diminuição de poder de comprar dos portugueses, a "falta
de estacionamentos no centro histórico" e a pouca oferta de transportes
públicos naquela zona serviram também para afastar os potenciais
fregueses. "A Rua Direita é o melhor centro comercial da cidade. O
pequeno comércio tem de tudo", destaca Fernanda Correia, dona de uma
drogaria. Para a comerciante, a redução do horário dos parquímetros
para as 18h00, podia ser uma boa medida para chamar mais clientes.
Nem todos os comerciantes vêm nas pequenas medidas a
solução e apresentam uma visão mais negativa. "O comércio tradicional
está sempre bom. Vêem-se greves em vários sectores, mas o comerciante
nunca protesta. Além disso, como é possível sobreviver quando há
concorrência desleal.", reforça Manuel Colaço numa referência clara aos
estabelecimentos abertos por imigrantes.
Segurança. Se
por um lado a conjuntura económica tem diminuído o poder de compra, a
existência de alguns focos de insegurança na Rua Direita têm proibido
os viseenses de "viverem" aquela zona. Vários foram os comerciantes que
apresentaram queixas e enviaram cartas para as autoridades da cidade.
O comandante da PSP de Viseu, Victor
Rodrigues, confirma a presença de indivíduos "ligados ao consumo de
estupefacientes" que têm dado "mau ambiente" à rua. Desde o início do
mês de Outubro que o comando da PSP decidiu reforçar o policiamento com
equipas de dois polícias a circular pela rua e uma equipa fixa junto ao
sítio mais problemático, numa artéria de ligação à Rua Direita.
De acordo com Victor Rodrigues, as novas medidas policiais vão-se manter até à total erradicação dos focos problemáticos. "