Tutela sem museus 'obriga' técnicos a armazenar peças históricas, algumas valiosíssimas
"Os achados continuam "escondidos" e o público a não poder usufruir deles. Podia, se o Ministério da Cultura tivesse em Viseu espaços capazes. Como não tem, resta esperar pelo museu da história da cidade, em estudo.
"Onde param os achados arqueológicos encontrados em Viseu?". A
curiosidade, travestida em pergunta, é de Fernando Ruas, presidente da
autarquia, que quer construir o museu de história da cidade e ter lá as
peças mais emblemáticas. O projecto do futuro espaço museológico, está
a ser estudado por uma 'comissão de sábios', nomeada pela câmara.
A curiosidade de Ruas, porém, parece ter resposta. Milhares desses
objectos, estão nos armazéns da Arqueohoje, em Viseu, a empresa que na
última década fez o acompanhamento arqueológico da esmagadora maioria
das obras realizadas no centro histórico da cidade.
E está tudo armazenado, porque a tutela não tem espaços próprios
disponíveis para acolher o que quer que seja, em museus ou em edifícios
propriedade do Ministério da Cultura.
"O que a lei diz é que os achados devem ser depositados no museu mais
próximo, ou, na falta dele, nas instalações locais do Instituto de
Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar). Ora, como
não há nenhum museu próximo com capacidade para acolher aquele
material, e como o espaço do Igespar é manifestamente diminuto, a
alternativa foi levar tudo para os nossos armazéns. Está lá tudo em
caixas, ensacado e inventariado", explica Pedro Sobral, da Arqueohoje,
sem deixar de lamentar a situação. "Se estivessem expostas, o público
podia usufruir delas. E compreendia até melhor o trabalho dos
arqueólogos, muitas vezes criticado e espezinhado", sublinha.
Fonte do Ministério da Cultura, ouvida ontem pelo JN, lembra que o caso
de Viseu não é único, e que a falta de espaços "vai sendo suprida à
medida que a rede de museus é alargada".
Fernando Ruas não contesta a existência do manancial em poder dos
arqueólogos: "não é só a Arqueohoje, antes dela houve muita escavação
feita por outros arqueólogos. É preciso saber também onde pára esse
material".
Depois, "importa ainda saber de quem é a titularidade das peças
encontradas, se são do Estado ou da Autarquia". O edil considera que,
tendo sido encontradas no espaço territorial do seu município, "faz
todo o sentido que sejam propriedade da autarquia. Mas vamos apurar
isso bem".
Ao todo, a Arqueohoje já terá sido responsável por mais de centena e
meia de trabalhos de acompanhamento arqueológico. A maioria das
intervenções, em espaços privados (casas, edifícios apalaçados ou
terrenos devolutos).
A preponderância da imensidão de objectos encontrados (mais de 200
mil), são fragmentos de cerâmica (vulgo cacos), guardados em caixas
empilhadas umas sobre as outras.
Mas à mistura, as escavações têm revelado descobertas valiosíssimas. As
últimas, feitas no topo da Calçada de Viriato, junto à Casa do Adro,
onde decorrem as obras do funicular, trouxeram à luz achados
importantes, em especial os da Idade do Ferro, que os arqueólogos estão
a estudar.
Pedro Sobral, volta a lembrar a lei: "sempre que queiram proceder ao
seu estudo, os arqueólogos podem ter as peças em seu poder durante
cinco anos". "
texto de Teresa Cardoso in Jornal de Noticias (28-10-2008)
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