A nova esquerda: Texto de Alexandre Pinto |
22-Jan-2009 |
Texto de Alexandre Pinto
Defendo a criação de um novo sujeito político em Portugal, chamem-lhe partido na designação ortodoxa, emergindo do espaço sociológico criado a partir das candidaturas pioneiras e emancipadoras de Manuel Alegre à Presidência da República e de Helena Roseta às Eleições Autárquicas Intercalares de Lisboa. Um Movimento Político dos Cidadãos organizado em rede, sem burocracias nem hierarquias rígidas e dogmáticas capaz de ser uma resposta política inovadora às novas exigências do século XXI e que não replique modelos ultrapassados dos outros partidos filhos da Revolução Industrial.
A crise e as suas exigências sociais exigem de nós respostas políticas
enérgicas e inovadoras com capacidade de mobilizar aspirações e anseios
dos cidadãos, profundamente desiludidos com o enorme fracasso das
respostas dadas pelos partidos tradicionais ao longo dos últimos anos.
A crise social exige de nós uma Nova Agenda Política com prioridades
muito claras e de mudança.
Depois de três quadros comunitários de apoio, milhões e milhões de
euros de ajudas alguma coisa de muito grave falhou. Portugal é hoje um
dos países mais pobres da Europa. Mais de 18 por cento da população
Portuguesa vive abaixo do limiar de Pobreza, com menos de 380 euros
mensais. Este é um problema estrutural que ao longo da última década se
tem arrastado, sem que se consigam implementar políticas com capacidade
de alterar a situação. Ao mesmo tempo Portugal é o país que no contexto
Europeu sofre de uma maior desigualdade na distribuição do rendimento e
da riqueza – a parcela auferida pela faixa de 20 por cento da população
com rendimentos mais elevados é 6.5 vezes superior à auferida pelos 20
por cento da população com rendimentos mais baixos, enquanto a média
comunitária é de 4.6 e nos países Nórdicos não vai além dos 3,5. No
último Relatório do Eurostat sobre a situação social coesão e igualdade
de oportunidades, publicado em 2008, Portugal continua a ser o país com
mais desigualdades no contexto da União Europeia. Quase um milhão de
pessoas vive com menos de dez euros por dia e duzentos e trinta mil com
menos de cinco euros.
Deve ser esta a prioridade política da Nova Esquerda. Mais de vinte
anos passaram desde a entrada de Portugal na União Europeia. Depois de
todo este tempo a Pobreza tem-se mantido estável em torno dos vinte por
cento da população portuguesa: um em cada cinco portugueses é pobre.
Temos que mudar este estado de coisas. Não nos devemos resignar e
encolher os ombros aos inúmeros apelos manifestados por tantos cidadãos
que hoje se sentem desiludidos com a política em Portugal. É este o
momento para avançar, deixemos de protelar adiamentos, porque a grave
crise social e económica que estamos a viver agrava ainda mais a sua
exigência. Se não o fizermos estaremos a ser cúmplices de um silêncio
de medo sofrimento e desespero de milhares de cidadãos neste País. Não
há desculpas à esquerda!
in Jornal do Centro ed. 357, 16 de Janeiro de 2009
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