Crise instala-se na Rua Direita
04-Nov-2008
rua_direita_pek.jpg" Não vendem ou vendem "muito pouco". O que facturam, dizem, "mal dá para pagar as contas". A concorrência "desleal" faz "desanimar" aqueles que "toda uma vida" investiram no comércio tradicional. Receiam a insegurança que se vive no centro histórico de Viseu, não só pelos possíveis assaltos, mas também porque acreditam que "isso afasta ainda mais os clientes".

As queixas dos comerciantes instalados no centro histórico de Viseu, em especial na Rua Direita, avolumam-se num findar de dia em que a noite desceu com uma maior rapidez na rua Direita, motivado pela mudança do horário para a hora de Inverno.

"O comércio aqui na rua só funciona até às 15h00, o mais tardar 16h00", refere uma das comerciantes da Rua Direita, evidenciando a falta de clientes, que "há trinta anos", depois do horário do expediente, aproveitavam para visitar o comércio tradicional. Mas, "esses tempos eram outros".

Os ponteiros do relógio apontam para as 18h30. A Rua Direita encontra-se, praticamente, deserta. Apenas alguns grupos de estudantes do ensino superior que sobem e descem, na galhofa. Clientes nem vê-los.

"Às vezes chegamos à caixa registadora e temos 20 ou 30 euros, que nem dá para pagar a luz", afirma Manuel Colaço, proprietário de uma sapataria, que tenta fazer um esforço para "modernizar" algumas das colecções na tentativa de "atrair mais clientes".

As "pensões, tascas, restaurantes, pentes, detritos cascas", os "muitos peões - sem baraça, engraxadores, mantas e cobertores", ou até "loiças, vidros, jarrões, muitas coisinhas estranhas e fumo d’ assar castanhas", retratadas em quadras populares do século XX, dão, hoje, lugar a um "fim anunciado" pela crise, pela descaracterização das lojas tradicionais e pelo facto de muitos comerciantes não terem poder de investimento para acompanhar as tendências de mercado.

Ao longo dos séculos, a Rua Direita esteve sempre ligada ao sector mercantil, tornando-se assim, um ex-líbris da cidade. Dos diversos materiais, que outrora os comerciantes colocavam pendurados à entrada dos seus estabelecimentos, restam portas fechadas e letreiros a indicar a venda dos imóveis.

De acordo com o presidente da Associação de Comerciantes do Distrito de Viseu, Gualter Mirandez, entre 2007 e 2008 terão encerrado cerca de duas dezenas de lojas no centro histórico. "Há um ano atrás haviam 123 lojas. Actualmente, estão abertos entre 70 e 80 estabelecimentos", refere.

Os comerciantes acreditam que, para além da crise económica e da diminuição de poder de comprar dos portugueses, a "falta de estacionamentos no centro histórico" e a pouca oferta de transportes públicos naquela zona serviram também para afastar os potenciais fregueses. "A Rua Direita é o melhor centro comercial da cidade. O pequeno comércio tem de tudo", destaca Fernanda Correia, dona de uma drogaria. Para a comerciante, a redução do horário dos parquímetros para as 18h00, podia ser uma boa medida para chamar mais clientes.

Nem todos os comerciantes vêm nas pequenas medidas a solução e apresentam uma visão mais negativa. "O comércio tradicional está sempre bom. Vêem-se greves em vários sectores, mas o comerciante nunca protesta. Além disso, como é possível sobreviver quando há concorrência desleal.", reforça Manuel Colaço numa referência clara aos estabelecimentos abertos por imigrantes.

Segurança. Se por um lado a conjuntura económica tem diminuído o poder de compra, a existência de alguns focos de insegurança na Rua Direita têm proibido os viseenses de "viverem" aquela zona. Vários foram os comerciantes que apresentaram queixas e enviaram cartas para as autoridades da cidade.

O comandante da PSP de Viseu, Victor Rodrigues, confirma a presença de indivíduos "ligados ao consumo de estupefacientes" que têm dado "mau ambiente" à rua. Desde o início do mês de Outubro que o comando da PSP decidiu reforçar o policiamento com equipas de dois polícias a circular pela rua e uma equipa fixa junto ao sítio mais problemático, numa artéria de ligação à Rua Direita.

De acordo com Victor Rodrigues, as novas medidas policiais vão-se manter até à total erradicação dos focos problemáticos. "

in Jornal do Centro ed. 346, 31 de Outubro de 2008