Constâncio admite 90 mil desempregados em 2009 (Mais vale tarde do que nunca)
07-Jan-2009
desempregado.jpgPrevisões. A economia vai recuar 0, 8% em 2009 face a 2008 e já está em recessão técnica causada pela quebra do investimento e das exportações. A luz ao fundo do túnel só será vista no final deste ano, mas o forte crescimento do número de desempregados está a alarmar o Governo de José Sócrates

Desemprego é preocupação, diz Teixeira dos Santos

Pelo menos 90 mil pessoas podem cair no desemprego em 2009. E o número de desempregados vai ultrapassar o meio milhão, de acordo com os dados ontem divulgados pelo Banco de Portugal. Vítor Constâncio, governador do banco central, traça mesmo um quadro negro: confirma que economia entrou em recessão técnica no segundo semestre de 2008, prevê que vá sofrer uma contracção de 0,8% em 2009, com o investimento a cair e as exportações a registarem uma queda de 3,6%. A luz ao fundo do túnel, só no final do ano.

As previsões económicas "são as mais negativas até agora publicadas sobre a economia portuguesa", resume o governador do Banco de Portugal ao apresentar as projecções de Inverno em conferência de imprensa realizada ontem. O banco central prevê um decréscimo de 0,7% a 1% no emprego, o que equivale a dizer que pelo menos 50 mil pessoas - de entre 5,1 milhões de empregos - estarão no desemprego. A este número haverá que juntar mais 40 mil pessoas (jovens) que todos os anos - em média - terminam a escolaridade e tentam encontrar trabalho. Ou seja, 525 mil pessoas poderão em 2009 estar sem trabalho. Em 2010 haverá mais desemprego. Os serviços de Constâncio calculam que existirá uma queda de 0,2% no mercado de trabalho, o que significa menos oito mil empregos. Outros 40 mil terão dificuldades em arranjar trabalho. Isto apesar de então, a economia crescer 0,3% face a 2009.

"A nossa preocupação é minimizar os efeitos que a crise possa ter sobre o emprego", reagiu ontem o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, logo após ser conhecido os dados do banco central. Numa curta conferência de imprensa, convocada de urgência - sem direito a perguntas - a tónica do ministro foi o desemprego. Trata-se, agora, diz, de "acautelar o nível de actividade económica, que assegure aos portugueses o emprego e apoiar as exportações".

Para quem não ficar desempregado em 2009 ou em 2010, a vida até pode sorrir, o que poderá, à primeira vista, parecer um paradoxo. As taxas de juros estão em queda "amaciando" as prestações mensais da casa e dos empréstimos ao consumo e a inflação vai cair para níveis históricos. É que o Banco de Portugal prevê que os preços subam só 1% em 2009 - o nível mais baixo dos últimos 35 anos - contra os 2,7% previstos para 2008. É o efeito da baixa dos preços do barril de petróleo e das matérias-primas, provocado pela forte queda da procura por produtos, em resultado do clima recessivo no mundo. Os salários podem crescer acima da inflação prevista. Os funcionários públicos, por exemplo, já podem contabilizar aumentos de 2,9%. Acresce que as medidas anticiclicas em IRS vão aumentar o rendimento disponível. Isto explica o crescimento dos gastos das famílias em 0,4% - apesar do desemprego.

A queda na produção (PIB), é explicada pela "rotura" no investimento e forte recuo nas exportações (3,6%). Entre 2008 e 2010 completa--se um ciclo de três anos em queda contínua no investimento.

 

in Diário de Notícias ed. de Quarta, 7 de Janeiro de 2009