“A igreja: Sócrates é o maior”
24-Fev-2009

"Caras e Caros, o Eng. José Sócrates vai estar em viseu no próximo dia 9, segunda-feira, às 21 horas no salão do Expocenter (Day After). Todos os militantes e simpatizantes do PS estão convidados a estar presentes e dar um apoio ao Secretário-Geral do PS. A sua presença é importante. José Sócrates precisa do seu apoio, Portugal precisa de José Sócrates e do PS. O presidente PS/Viseu". Começava assim o email com que o PS Viseu me convidou para ir à festa que estavam a organizar para a visita do José Sócrates à cidade.

Convite estranho! Não sou militante, nem nunca fui. Também não simpatizo com este PS e muito menos com o seu engenheiro.
Dizem uns que "há medo no PS", outros que se vive uma "obsessão da fidelidade ao líder" e outros ainda que o debate no partido é "uma missa, ainda por cima já esgotada". Quem diz isto? Gente de dentro, camaradas! Dos deles! Não parece bem, não. Se fosse gente de fora, os outros, que já se sabe como é - uma cambada, uns mal dizentes, sempre prontos a "lançar a suspeição"; umas "sujeitas e uns sujeitos" sem ideias e sem projectos, uns "demagogos populistas"; gentes da "campanha negra"; umas "laranjas podres" - ainda vá que não vá, agora dos deles! É intrigante!

Só tinha uma solução ir ver, com estes que a terra há-de comer. E assim, acabei, a reboque do convite, por ir até ao Expocenter!

E pergunta o leitor: e então? Então nada! Para lhe ser franco tive medo e vim-me embora a correr! Aquilo, para lhe dizer a verdade, parecia (senão é mesmo) uma "missa" da "igreja - Sócrates é o maior". E eu, além de não simpatizar com o engenheiro, sou um descrente.

Não acredito nas "justificações" do eng. José Sócrates acerca dos bons e belos projectos de engenharia que assinou e que os donos das obras garantiam não serem dele; Não acredito nas suas "explicações" relativas à sua licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Independente; Não acredito que no caso Freeport tudo esteja bem e que o processo tenha sido transparente e seja "em termos quid juris irrepreensível"; Não acredito que tudo isto seja uma invenção dos média; não acredito que esteja inocente no caso Freeport (mas, acreditem-me, que se se provar que é inocente lhe pedirei públicas desculpas por não o ter acreditado). Acho inacreditável a sua arrogância e o desprezo que vota ao debate das ideias; ao dito e ao não dito que cultiva com uma esperteza saloia, como se todos fôssemos parvos e imbecis (olhem o caso do estudo da OCDE sobre a educação).

E por fim não acredito, naquilo que escreve o "bispo" José Junqueiro "a mensagem e actuação do PS e do Primeiro Ministro são a nossa única garantia para vencer, para reganharmos a esperança, para qualificarmos o nosso futuro, para estabilizar a economia, para criar novas oportunidades de trabalho, para dar às pessoas aquilo a que legitimamente aspiram: uma vida tranquila e governos estáveis." Não acredito que o engenheiro José Sócrates seja a pessoa indicada para nos fazer "voltar a pensar num futuro de esperança que todos exigimos e a que todos temos direito." Tudo isto é uma questão de fé. Agora que a minha fé é nenhuma, isso é verdade.
 
Texto de Fernando Figueiredo
 
in Jornal do Centro ed. 362, 20 de Fevereiro de 2009