Intervenção do deputado Carlos Vieira na Assembleia Municipal de Viseu de 8 de Janeiro
11-Jan-2010

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA FRUSTRADA UNIVERSIDADE PÚBLICA DE VISEU

 Já vai longe o tempo em que o professor José Silvestre escreveu um inflamado artigo, publicado em vários jornais locais, lamentando que Viseu fosse “um buraco negro rodeado por uma miríade de sois” (referindo-se às universidades públicas que iam sendo criadas à nossa volta: Aveiro, Vila Real, Covilhã, a somar às de Coimbra e do Porto.) Mas havia (e há ainda) quem pense que Viseu está no centro do universo e não descansaram enquanto não expulsaram da cidade, ao mínimo pretexto, o pólo da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Recordo que o reitor da U.P., recebido com todas as honras na Câmara Municipal de Viseu, disse no seu discurso que, a seguir àquele projecto pioneiro, poderiam vir para Viseu pólos de outras Faculdades e depois, naturalmente, seria como um filho que se separa do pai.” Foi a primeira grande oportunidade desperdiçada.

 Couto dos Santos, ministro de Cavaco, veio dizer num Congresso Distrital do PSD, que “não se abre uma universidade como se abre uma tasca”. Entretanto, licenciaram universidades privadas por tudo o que era sítio, a maioria com qualidade abaixo de tasca.    
 O Reitor da Universidade Católica sempre disse que não havia espaço em Viseu para duas universidades e ameaçou repetidamente com o encerramento do Centro Regional das Beiras da Universidade Católica no caso de ser criada em Viseu uma universidade pública. Convidado a vir visitar as instalações da Católica em Viseu, o então primeiro ministro Cavaco Silva foi o primeiro a deitar água fria nas aspirações de Viseu ao dizer que era “uma insensatez os viseenses quererem uma universidade pública” quando tinham ali uma universidade tão boa.
 Então, em 25 de Fevereiro de 1993, o PSD apresentou, na Assembleia Municipal  de Viseu, uma moção no sentido de apelar ao governo para apoiar a criação de cursos científico-tecnológicos no pólo de Viseu da Universidade Católica, tendo em vista a sua transformação na “Universidade Viseense”. Apesar de aprovada por unanimidade, esta moção foi considerada, na declaração de voto de um deputado do PS, como uma derrota para os viseenses que lutaram pela Universidade Pública. Tinha toda a razão, porque se estava a reduzir o espaço vital para a criação de uma verdadeira Universidade Pública.
 Quando o governo de António Guterres licenciou um curso de Medicina na Universidade da Beira Interior, os viseenses foram mobilizados para uma manifestação de protesto que encheu o Rossio, a pretexto de candidatura de Viseu ter sido preterida. Esta foi mais uma grande mistificação e manipulação grosseira da realidade, uma vez que Viseu não tinha nenhuma candidatura pela simples razão de que não tinha uma universidade pública, ao contrário da Covilhã. O que tinha havido era apenas um estudo para a criação de um curso de Medicina da autoria de Correia de Campos, o qual confessou numa entrevista (Jornal do Centro, 3.10.2008) que a intenção era convencer a Católica a acolher esse curso. 
 O mesmo se pode dizer da actual reacção do PSD, dos seus deputados eleitos por Viseu ao presidente da Câmara, por o governo do PS ter decidido autorizar um curso de Medicina na Universidade de Aveiro. Mas como é que  podia vir para Viseu se não temos Universidade Pública? A resposta foi-nos dada pelo senhor deputado Almeida Henriques num artigo no Diário de Viseu (18.12.2009), onde refere a candidatura do Instituto Piaget. Decidam-se, meus senhores: ou defendem o ensino privado ou reivindicam a universidade pública! Até podem defender os dois, mas não confundam os viseenses, com propostas de universidades de treta como o ensino à distância da “universidade telemática” ou a Universidade Aberta (que por acaso, já está aberta em todo o lado, incluindo em Viseu, com um centro de apoio na Escola Superior de Educação).  
 Essa táctica de defender a quadratura do círculo, reivindicando uma universidade pública que não belisque os interesses das escolas privadas, só nos fez perder tempo. Defender os cursos de licenciaturas mais apetecidos, como o de Medicina, nas escolas superiores privadas, deixando para uma futura universidade pública apenas as pós-graduações, os mestrados e os doutoramentos, que terão de ser bem pagos pelos alunos, não me parece um bom caminho.
 Por outro lado, o bairrismo bacoco que levou alguns viseenses com responsabilidades nos órgãos do poder local, a repudiarem a criação de uma unidade orgânica da Universidade de Aveiro (uma das mais prestigiadas do país) criado por diploma do governo de Guterres que o ministro do governo de Durão Barroso, Pedro Lynce, logo suspendeu, foi a segunda grande oportunidade perdida, tendo em conta que estava previsto que este Instituto Universitário pudesse vir a ganhar autonomia dentro de seis anos (já passaram sete!). Na altura avisei que, apesar de não estarem previstas licenciaturas, mais valia um pássaro na mão, do que dois a voar. E admiram-se agora de a Universidade de Aveiro ter preparado, com tempo, um curso de medicina, realizando, sem complexos, parcerias com a Universidade do Porto e hospitais como o de Viseu? Deviam era pedir desculpas aos viseenses pela vossa falta de visão!
 E não venham falar do projecto de Veiga Simão, porque isso de misturar o Instituto Politécnico com o Instituto Piaget e a Universidade Católica numa mesma academia, ainda que apoiados numa universidade alemã, não passaria, como denunciou na altura o Bloco de Esquerda, de “oferta pública de ensino privado”.
 A manifestação do Rossio, em desagravo pela ida do curso de medicina para a Covilhã, foi um acto de demagogia populista que abusou da boa fé dos viseenses. Fazer outra agora, depois da criação do curso de Medicina  em Aveiro, que só veio provar a falta de visão estratégica dos políticos locais, só serviria para expor ao ridículo a cidade e a região. 
 A solução já foi indicada na moção que, por iniciativa do Bloco de Esquerda, foi aprovada, sem nenhum voto contra, no ano passado, no sentido do reforço do Instituto Politécnico até à sua evolução para Universidade Politécnica. É essa proposta que aqui, de novo, submetemos à vossa votação.

 Tenho dito.

Assembleia Municipal de Viseu, 8 de Janeiro de 2010,
O deputado do Bloco de Esquerda

Carlos Vieira e Castro