Opinião
Texto de Maria da Graça M. Pinto
O anúncio do encerramento de 500 escolas do primeiro ciclo até ao final do ano lectivo e a perspectiva de a estas se juntarem, a curto prazo, mais 400 , apanhou o país desprevenido, com particular destaque para as crianças e famílias do interior as mais afectadas por esta medida. O interioricídio soma e segue, e as crianças são as principais vítimas.
Argumentam os responsáveis do Ministério da Educação que a qualidade da oferta educativa é a razão de ser desta decisão e que o processo será concertado com as autarquias e as comunidades locais. Temos todas as razões para desconfiar desta declaração de intenções. Toma-se uma decisão no aconchego dos gabinetes, à revelia das autarquias , das populações e dos actores educativos e, simultaneamente, declara-se a intenção de implementar o processo de forma participada. Como diz o povo, a bota não bate com a perdigota!
A estratégia não é nova. Foi assim, quando há anos se anunciou o encerramento de escolas com menos de dez alunos. Entretanto, a sanha da poupança aumentou e o resultado está à vista. Desta vez passaram a estar na mira de fogo as escolas com menos de vinte alunos. E quem sabe, se num futuro próximo, a obsessão do défice, não irá ditar outros números! A fazer fé na duplicação dos números agora verificada, iríamos, então, para a fasquia mínima das quarenta crianças por escola!
Se juntarmos a esta medida, a decisão de criar mega-agrupamentos, o quadro fica, ainda, mais claro. Afastam-se crianças do meio em que cresceram e consagram-se direcções de agrupamentos distantes das realidades locais e da comunidade educativa. Trata-se de implementar medidas economicistas, com base na régua e no esquadro, fazendo tábua rasa dos interesses das populações e da melhoria da oferta educativa.
O impacto desta política far-se-á sentir, sobretudo, nos concelhos do interior. Casos como o do concelho de Vouzela, onde, de acordo com notícias vindas a público, se prevê o encerramento de 12 escolas, de Aguiar da Beira, onde das cinco escolas existentes, apenas sobrará uma, ou de Gouveia que perderá 10 escolas, irão repetir-se-ão por todo o interior.
Entretanto o Bloco de Esquerda chamou a ministra da educação ao parlamento para explicar esta medida. O país tem direito a um cabal esclarecimento sobre as verdadeiras razões que determinaram esta decisões, tomada nas costas dos cidadãos e que, a nosso ver nada têm a ver com a qualidade da educação ou os interesses das crianças.
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