O DIREITO À VERDADE
10-Jan-2011
Opinião
Texto de Carlos Vieira e Castro
carlosvieira.jpgEspero que os leitores tenham entrado no novo ano com o pé direito, ou melhor, com o pé em que tenham mais fé, caso sejam supersticiosos. Em qualquer dos casos não se livram da subida dos impostos, da redução do salário, se forem funcionários públicos, das pensões congeladas, de pagarem para a Segurança Social quase metade do que ganharem se trabalham a recibos verdes, de pagarem mais para Educação e para a Saúde (se ganharem mais do que o salário mínimo já pagam taxa moderadora),  o gás, a electricidade e os transportes mais caros e a Cultura, esse alimento do espírito,  cada vez mais a ser considerada um luxo supérfluo.
    Por isso, apesar de não se supersticioso, decidi entrar em 2011 com os dois pés. Com os dois pés em riste: para acertar de uma só vez nos traseiros dos dois partidos que têm alternado no poder, ao longo das últimas três décadas, e que deixaram o país neste triste estado. Recuso-me a dançar ao som deste baile mandado: “Ora agora mandas tu/ ora agora mando eu/ Ora agora mandas tu/ Mandas tu mais eu”. Alto e pára o baile!
 

    Felizmente, fizemos o 25 de Abril e ainda temos uma comunicação social livre, sem censura, nem mordaças, apesar de muitos condicionalismos que levam, inclusive, à auto-censura, por força da concentração da propriedade dos principais jornais e televisões na mão de três ou quatro grupos económicos.
    Daí a importância do caso Wikileaks que nos permitiu comprovar coisas que já sabíamos, revelando documentos oficiais, através de cinco dos mais prestigiados jornais mundiais, como a criação pelos EUA de unidades secretas de assassinatos e da matança de civis inocentes tanto no Iraque como no Afeganistão. Porque todos temos o direito a saber a verdade. Basta de manipulação da opinião pública. Os povos não esquecem que foram Bush, Blair, Aznar e Barroso que decidiram, nos Açores, a invasão do Iraque, mentindo acerca das armas de destruição massiva, que Saddam nunca teve. Pelo contrário, quem as tinha e as usou foram os EUA e o Reino Unido, como ficou provado pelo documentário da RAI -. Rádio Televisão Italiana, sobre “O massacre de Falluja”, que deputados do Parlamento Europeu divulgaram por toda a Europa. Eu vi o filme e não esqueço os efeitos das bombas de fósforo branco (arma química proibida) nos cadáveres de homens, mulheres e crianças daquela cidade iraquiana. E não lhes perdoo. Não há segredo de Estado que legitime atentados aos direitos humanos ou fraudes financeiras como as que lançaram o mundo na presente crise económica que provoca mais miséria e fome, por todo o lado, incluindo Portugal.
    Por isso, por todo o mundo se levantam vozes solidárias com Julien Assange,  fundador da Wikileaks, que já anunciou que as próximas revelações terão como alvo os negócios fraudulentos dos bancos. Foi quanto bastou para que as acções do Banco da América caíssem 3%.
    Também os portugueses têm o direito de saber a verdade sobre o BPN já que o buraco de 5,5 mil milhões de euros que todos estamos a pagar deu um contributo decisivo para as pressões dos agiotas internacionais que ameaçam a soberania do nosso país.
    Bem pode Cavaco Silva armar-se em vítima de uma alegada “campanha negra” dos restantes  candidatos à presidência da República, e até reagir com golpes baixos, procurando denegrir o carácter de Manuel Alegre, que a verdade é que temos todos o direito de saber se houve ou não favorecimentos na compra e venda das acções da SLN, não cotadas na Bolsa, compradas a 1 euro e vendidas a 2 euros dois anos depois, com mais valias de 140%, à sociedade gerida por Dias Loureiro e Oliveira e Costa, seus ex-ministro e secretário de Estado. Sobretudo quando sabemos que, entretanto, nomeou Dias Loureiro para seu Conselheiro de Estado, cargo com imunidade, de onde tardou a sair. Cavaco até pode ser mais honesto do que a própria sombra, mas a verdade é que denotou falta de honestidade intelectual ao acusar a actual administração do BPN (onde, aliás, 2 dos 3 principais gestores estão na comissão de honra da sua candidatura) não dizendo uma palavra sobre a administração que geriu o BPN de forma fraudulenta e ilegal, onde estava a fina flor do cavaquismo, como Dias Loureiro, Rui Machete, Arlindo de Carvalho, Oliveira e Costa,  Miguel Cadilhe, seus ex-ministro e secretários de Estado, e ainda membros da comissão de honra da sua candidatura, como Alberto Figueiredo ( o maior accionista do BPN e presidente da SLN Valor), Abdool Karim Vakil (que sucedeu a Oliveira e Costa na presidência do BPN), o tondelense Joaquim Coimbra (um dos maiores accionistas do BPN)  e Fernando Fantasia (empresário do ramos imobiliário, sócio de Oliveira e Costa e co-proprietário dos terrenos da SLN junto ao Campo de Tiro de Alcochete, comprados por 40 milhões de euros, duas semanas depois de o Governo ter anunciado a nova localização do futuro aeroporto de Lisboa). Tudo gente fina…
    É por isso que no próximo dia 14 eu não tenho dúvidas em votar  no candidato mais bem posicionado para derrotar, logo à primeira volta, Cavaco Silva,  o símbolo do despesismo de Estado (como lembrou há dias o Diário de Notícias, foi durante os dez anos dos governos de Cavaco que a despesa pública mais subiu) e que dá garantias de não ser submisso aos governos do seu próprio partido, quando está em jogo a defesa dos direitos constitucionais ao trabalho, à escola pública gratuita e a um Serviço Nacional de Saúde  para todos. Não confio na sorte: entre o cravo e a ferradura, eu não hesito em votar em  Manuel Alegre.